Um assunto não sai da pauta de discussão, principalmente, nos grupos formados por professores, estudantes e profissionais de comunicação. O jornal impresso está com os seus dias contados devido ao progresso da internet e os diversos suportes digitais da notícia, como celular, ipad e netbook?
Depois de quase dois meses em que o Jornal do Brasil emigrou da publicação impressa para a digital, a Associação Brasileira de Imprensa(ABI) realizou, na última quarta, o Seminário “o JB que nós amávamos”, na qual a história do único jornal impresso que teve abrangência nacional foi resgatada por jornalistas que trabalharam em diferentes épocas na redação desse antigo gigante da imprensa que agora só ficará nas memórias, livros e na sua versão digital.
Todo o processo de como era produzido o jornal, desde a realização da matéria, passando pela revisão do editor até a impressão foi mostrado através do curta metragem de Nelson Pereira de Santos, “um moço de 74 anos”. Ildo Nascimento, professor da Universidade Federal Fluminense, falou da reforma gráfica do jornal no final da década de 50 e como a mudança na diagramação favoreceu para maior reconhecimento pelo público e, também, contribuiu, para que mais tarde, os outros jornais imitassem a reforma feita por Amilcar Castro.
Com o tema “Um jornal que fez história”, a primeira mesa foi composta por Alberto Dines, José Silveira, Ana Arruda, Cícero Sandroni e Wilson Figueiredo. O primeiro a falar foi o editor responsável do programa Observatório da Imprensa na TV Brasil, Alberto Dines, que está com uma virose e, por isso, participou por vídeo conferência. Dines começou a trabalhar no JB como editor, em 1962, e permaneceu durante quatro anos.
- O que mata a imprensa são esses surtos messiânicos – disse Dines, ao se referir das mudanças estruturais constantes que acontecem, atualmente, nos jornais. Para o experiente jornalista, o grande mérito do JB foi que, de 1956 a 1990, ele não teve períodos. As equipes mudavam, mas o padrão do jornal era mantido.
Com uma trajetória de mais de 20 anos no JB, o jornalista José Silveira ressaltou que a base da redação de um jornal é o diálogo entre os jornalistas e que “o jornalismo é um aprendizado diário”.
Ana Arruda, que com 20 anos começou a carreira de jornalista no JB quando começava a reforma do jornal, disse que através do Concretismo, da Bossa Nova, da criação de Brasília e da Revolução Cubana foi que o espírito JB se concretizou.
- Os chefes estavam ali para ajudar e ensinar – comentou Arruda ao lembrar-se dos chefes que teve no JB, ressaltando que a redação não era ditatorial.
Os “jotabenianos”, como Mair Pena Neto, Romildo Guerrante, Sandra Chaves e Flávio Rodrigues são chamados, compuseram a segunda mesa, na qual os antigos jornalistas do JB relembraram a memória afetiva e política da redação.
- No JB essa vaidade era atenuada pelo espírito de equipe, o motorista, o fotógrafo e os jornalistas se ajudavam – visivelmente emocionado, comentou Neto ao classificar o jornalismo como sendo, muitas vezes, uma profissão de vaidade.
Em relação ao fim do JB impresso, Sandra Chaves comentou que o grande problema é colocar a notícia num único meio. Chaves criticou a ideia de usar somente o jornal impresso ou apenas a internet.
Flávio Rodrigues propôs que o ideal para o nome do evento é “o JB que nós amamos”, já que as lembranças e o amor pelo jornal permanecem entre muitos jornalistas e leitores.
Com tom mais agressivo e ao mesmo tempo preocupado com o futuro do jornalismo, Domingos Guerrante aproveitou a presença da platéia composta por estudantes de jornalismo para alertar sobre as conseqüências da velocidade e do desleixo das redações na publicação da notícia.
O seminário foi realizado na última quarta e quinta-feira e coordenado por Sylvia Moretzsohn, professora da Universidade Federal Fluminense, colaboradora do Observatório da Imprensa e diretora de jornalismo da ABI.