Área que ainda não foi inaugurada já é usada como ponto de venda de drogas
Praça construída onde era o Morro do Bumba, em Niterói. Governo do Estado gastou R$ 35 milhões na obra |
Uma obra de contenção de encostas, drenagem e construção de uma praça tem deixado os moradores do bairro Viçoso Jardim, em Niterói, inquietos. Isso porque a obra está sendo feita no morro do Bumba, onde 46 pessoas morreram após o deslizamento de terra em abril do ano passado. De acordo com os dados da prefeitura, foram gastos R$ 35 milhões. O prazo de entrega era de 180 dias, mas já faz um ano que as atividades começaram.
A parte de contenção das encostas é a que ainda não está finalizada, mesmo assim, no site do Governo do Estado diz que as obras na localidade foram concluídas em março deste ano. Apesar de a quadra e o parque já estarem prontos, a área ainda não foi inaugurada e permanece isolada por uma cerca. Moradores relatam que, à noite, o local é usado como ponto de venda de drogas. E temem que após a inauguração a área seja ainda mais utilizada pelos traficantes.
– Logo no início eles (prefeitura) cuida (sic), mas logo depois vão abandonar, vai virar um ponto de droga, que já é – disse Reginaldo Fernandes, de 50 anos, morador há 15 do Viçoso Jardim.
Para os moradores, a construção da praça é desnecessária em comparação às necessidades da população.
– Nós gostaríamos que fosse um posto de saúde, porque aqui não tem. Eu sou contra a construção da praça – desabafou Vilma dos Santos, moradora do bairro há 28 anos e onde tem um comércio há 12.
– Um colégio, um posto, mais uma creche eram melhores do que isso aí (praça) – completou Fernandes.
A questão da saúde é uma necessidade real da comunidade. Apesar de, na época da tragédia, ter sido criada uma Comissão Especial de Emergência nessa área, como indica o Diário Oficial de Niterói de 14 de abril de 2010, a comunidade continua sem ter ao menos um posto de saúde na região.
Mesmo não sendo morador do bairro, mas dono de uma locadora no Viçoso Jardim há 7 anos, Alexsandro Martins também não concorda com a construção da praça.
– A comunidade aqui está precisando de tudo, mas área de lazer é o de menos – disse.
Em resposta a Prefeitura de Niterói afirmou que toda as ações inerentes ao morro do Bumba estão sendo feitas pelo Governo do Estado. Acionados pela equipe de reportagem O Governo do Estado do Rio de Janeiro e a empresa Haztec, responsável pelas obras, não se pronunciaram sobre o assunto.
O ‘novo’ morro
Para a contenção da encosta do morro do Bumba, onde já foi um lixão, estão sendo colocadas placas da grama batatais, por ter um crescimento rápido e se desenvolver em solo mais pobre. Debaixo dessa grama, foi colocado um selo de argila de um metro de espessura para evitar que o chorume, líquido liberado pelo lixo e altamente poluente, infiltre no novo solo vegetal. Na parte superior do morro, onde o terreno não é inclinado, foram feitas covas de 15 a 20 cm para a plantação de oito tipos de sementes. Já na praça, foi usada a grama esmeralda, por ter bastante resistência ao pisoteio.
Para escoar a água e evitar que o solo fique encharcado provocando novos deslizamentos, foram construídas escadas hidráulicas na parte do morro onde não tem lixo, e colchões renos, gaiolas enchidas com pedras de mão, na área onde há lixo.
Foram feitas uma drenagem profunda das nascentes e do chorume e ainda o serviço de terraplanagem, colocação de terra para aplainar o terreno. Segundo um funcionário da empresa responsável pelas obras, o lixo não foi retirado do local porque não havia necessidade.