O que a mídia hegemônica não mostra: O porquê de tantos incêndios nas favelas de São Paulo.

Ao ler a revista Caros Amigos do mês de outubro, deparei-me com uma matéria sobre o aumento do número de incêndios nas favelas de São Paulo. Quero aproveitar e parabenizar a jornalista Débora Prado pela excelente reportagem. É notável que o assunto tratado não seja nada de novo, porém, a matéria traz muitos dados e depoimentos relevantes.


Em destaque, diz que existem suspeitas que alguns incêndios tenham sido provocados por interesses imobiliários. Sinceramente, isso foi o que mais me chamou a atenção e me fez ler as duas páginas que falam sobre o assunto. É horrível pensar e acreditar que interesses individuais possam ser capazes de colocar em risco a vida de milhares de pessoas que já passam por diversas dificuldades e ainda sofrem com as perdas constantes devido a esses incêndios que tornaram tão comuns na cidade.

Um dos motivos que confirma tais suspeitas é o local onde os incêndios mais acontecem, são regiões de antigos embates entre a comunidade e o poder público, uma delas é a comunidade Real Parque, onde a área atingida pelo último incêndio, no mês de setembro, faz parte de um terreno da EMAE (Empresa Metropolitana de Águas e Energia S.A), na qual a prefeitura tem tentado com dificuldades retirar a população do local. Além disso, há áreas, como na Água Espraiada, nas quais os moradores já sabem que logo serão expulsos, porque a prefeitura tem interesse de fazer na Espraiada uma nova Avenida Paulista até a Copa de 2014. Depois do último incêndio, a prefeitura quis encaminhar algumas famílias para alojamentos em outras regiões da cidade, só que os moradores não aceitaram. E por que eles não aceitaram? Porque, assim como qualquer pessoa, eles se identificam com o local onde vivem e muitas vezes, ou melhor, na maioria delas, a prefeitura quer deslocar esses moradores para lugares distantes. Nossas autoridades esquecem que a população quer morar perto do local de trabalho, de áreas com infra-estrutura e, por isso, recusam essas propostas.

Outro aspecto que nos assusta é ver que em muitos casos o corpo de bombeiros vai às áreas de incêndios com os carros sem água ou com a torneira furada, sem contar a demora para chegar, neste último caso, talvez, possa ser levado em conta o trânsito como empecilho, mas para os outros dois não há desculpa. Sendo assim, os próprios moradores, acostumados com a situação, se viram com os baldes cheios de água para tentar conter o imenso fogaréu que se alastras rapidamente.

Contido o fogo resta-se nada. Minto. Restam-se problemas: algumas pessoas não tem onde morar, outras recebem auxílio-aluguel, porém, não sabem até quando receberão ou quando começarão a receber. Sem contar a ausência, em muitos casos, da unidade móvel de Poupatempo, onde as pessoas podem refazer os documentos perdidos nos incêndios.

A mídia brasileira concentra-se em divulgar a quantidade de pessoas desnutridas na África, o desrespeito aos Direitos Humanos no Irã, o suposto surto de cólera no Haiti, mas esquece de olhar para o próprio país, ou melhor, para os seus próprios receptores de notícias. Uma realidade está estampada a todos os donos dos meios de comunicação, diretores, editores e jornalistas. Infelizmente, não é somente em São Paulo que a população não recebe o auxílio-aluguel e sim em todo o Brasil. Como exemplo, são os moradores do morro do Bumba, que desde o terrível deslizamento de terras causado pelas chuvas no mês de abril, não recebem, até hoje, o prometido auxílio. E os grandes meios de comunicação só se importaram com o assunto quando ele rendia audiência, ou seja, na semana em que a tragédia aconteceu. Depois disso... Onde fica mesmo o morro do Bumba?

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