Nesta última quarta (5/1), eu e o pessoal do Projeto de Extensão da UFF, do qual faço parte, fomos visitar o PAC de Manguinhos. Que obra espetacular. É um mundo moderno e atual dentro de outro totalmente inverso. Um espaço enorme com uma biblioteca de última geração, com ótimos computadores, ar condicionado, locadora, milhares de livros novinhos e até as poltronas são maravilhosas. Ainda tem diversas salas que serão usadas para aulas de dança, curso de gastronomia e outras atividades. Agora, basta saber se realmente elas serão desenvolvidas. Diante dessa maravilha de obra, basta saber também se ela será usada pela população do Complexo de Manguinhos. Durante a minha visita, alguns moradores me falaram que essa exuberância toda é o que mais assusta a população e, infelizmente, faz com que muitos deles não frequentem o local. Mas a minha visita ao Parque de Manguinhos foi com outro intuito: acontecia lá, o primeiro encontro entre a Secretaria Especial de Desenvolvimento Econômico Solidário e a população local sobre o projeto Rio Ecosol da prefeitura do Rio. O projeto tem o objetivo de criar pontos solidários em quatro favelas da cidade: Complexo de Manguinhos, morro Santa Marta, Complexo do Alemão e Cidade de Deus.
Já tem três meses que eu estudo sobre economia solidária. Em outubro do ano passado, me debrucei diante das leituras indicadas para fazer a prova de seleção dos bolsistas que iriam participar do projeto de extensão da UFF. Esforcei-me para adquirir todo o conhecimento sobre economia solidária, já que era leiga no assunto. A partir de novembro, eu e os outros bolsistas começamos o processo de formação em economia solidária. Depois de dois meses de curso, de muitas discussões e leituras sobre o assunto, ir ao PAC, em Manguinhos, foi ver um pouco da realidade do principal alvo que a economia solidária tem ou deveria ter: a população mais carente. Nunca tinha ido a uma favela. Estar em Manguinhos ao lado da população local e ver a realidade dessas pessoas foi uma experiência e tanta. Experiência que digo não para a minha vida acadêmica, mas pessoal. A gente desperta e ver que o conhecimento está muito além daquilo que está ao nosso redor: professores, amigos, estudiosos etc. O conhecimento está também naquelas pessoas que nunca tiveram acesso à escola, mas que sabem muito bem falar sobre as suas vidas e mostrar soluções para as comunidades, onde estão inseridas.
Como dito anteriormente, a nossa visita foi durante o primeiro encontro entre a secretaria Especial de Desenvolvimento Econômico Solidário e a população do Complexo de Manguinhos. A coordenadora do Ponto Solidário de Manguinhos, Ana Asti, dedicou sua apresentação sobre o Comércio Justo. Ana falou desde como surgiu o comércio justo até como ele é desenvolvido hoje no mundo, com a criação do selo que certifica alguns empreendimentos em comércio justo. O discurso da coordenadora foi sustentado por exemplos de comércio justo no exterior, especificamente, na Europa, o que deixou um pouco a desejar. Afinal, a população de Manguinhos e o Brasil vivem uma situação totalmente distinta dos países europeus. E outra questão que não somente me incomodou como deixou outros bolsistas pensativos é: se esse projeto da prefeitura do Rio de criar pontos solidários nas favelas visa mesmo o desenvolvimento dessas comunidades e a criação de oportunidades reais e permanentes para as pessoas? Eu receio de a prefeitura estar desenvolvendo esse projeto como sendo mais um que durará o período que for eficaz para as nossas autoridades e depois acontecer da população ficar mais uma vez desiludida. A coordenadora deixou bem claro que o objetivo da prefeitura é assessorar os pontos solidários que serão desenvolvidos nas favelas e que o papel de desenvolver e cuidar é das comunidades. Se realmente for isso, acredito que as favelas que receberão os pontos solidários só têm a ganhar ao participar desse projeto. Vamos torcer e acompanhar!
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